sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"Do lar"

Ah não arrumou emprego AINDA?
 
Como se arrumar emprego fosse fácil...
Como se você, ao invés de "trabalhar"  passasse suas horas na piscina tomando "um bronze" e algumas caipirinhas...
Como se deixar de comprar aquele vestido maravilhoso que ficou tão bem em você te deixasse super animada...
Como se cuidar de uma casa sem ajuda fosse a coisa mais divertida do mundo...
Como se orientar seu filho na lição de casa, ou levá-lo na natação, escola, futebol, etc não exigisse responsabilidade e tempo, apesar de você "não estar trabalhando".
Como se educar, participar e cuidar do desenvolvimento emocional do seu filho, para não criar um futuro delinquente não fosse exaustivo e te consumisse o suficiente.
Como se fosse quase uma obrigação estar com as unhas, corpo, cabelo, roupas, e maquiagem "em dia".  E sobrancelha então, falam com você praticamente condenando cada pelinho fora do lugar.
E pensar no cardápio diferenciado todos os dias, para agradar todos os gostos familiares? E preparar: temperar, assar, cozinhar, fritar nunca, não deixar queimar nem passar "do ponto", porque se você errar, além das queixas, lá se vai parte da economia doméstica, sim porque ainda tem a parte administrativa e econômica da coisa...
E ser personal stylist, psicóloga, eletricista, mecânica, às vezes médica, advogada, costureira, paisagista, decoradora, mãe, esposa, filha, amiga, mulher...
Mas sou uma "desocupada", sem emprego (e sem remuneração), sobra tempo pra fazer e ser tudo isso.
Subjugada é assim que me sinto, primeiro por não conseguir recolocação no mercado de trabalho, não que eu não queira, mas provavelmente porque as empresas subestimam a capacidade de uma mulher, 37 anos (alguns classificados já excluem o candidato pela idade, sugerindo pessoas com 25 ou no máximo 27 anos), recém formada, com especializações no currículo, pouca experiência, mãe, esposa e "do lar".
Consternada pela não valorização da mulher na condição de cuidadora do bem mais precioso que emprego nenhum pode dar: lar.
Antigamente nós mulheres tínhamos o dever de estar em casa zelando pelo bem estar da família, atualmente devemos zelar pelo bem estar da família independentemente de qualquer coisa, e ainda sermos excelentes profissionais fora de casa, com carreiras de grande visibilidade e sucesso.
Bem, não importa o tempo, a mulher continuamente tem que se desdobrar para atender as sentenças que lhe são impostas, seja por homens e até pelas próprias mulheres. Sentença sim, porque estamos o tempo todo sob jugo em qualquer circunstância. Se trabalho fora, não estou dando a devida atenção à família, se trabalho em casa, cuidando da família, sou uma "desocupada", se consigo conciliar tudo e ser bem sucedida no emprego na certa dirão que dormi com o chefe.
Qualquer semelhança não é mera coincidência

Um comentário:

  1. Li, muito bom seu texto! Mulheres desempregadas só não são mais julgadas que os homens desempregados, mas quando eles tem emprego, só isso já é fazer mais do que suficiente. Dedicação em casa? Que bicho é esse? rs Não foi/é sempre assim? Quem te conhece sabe do seu valor e do quanto você é dedicada e preocupada, inventando tempo pra conseguir fazer tudo e ainda estar (sim) sempre nos trinques! Tenho muito orgulho de você! <3

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